Capítulo 77 - São as coisas ruins que passamos que nos fortalecem, nos fazem enxergar a vida de uma outra maneira, amadurecemos com isso.

Dedicado para a Camila, aniversariante do dia   

Acordar no dia seguinte foi no mínimo ridículo. Percebi que nada que tinha acontecido foi sonho. Era a mais pura realidade. Ele tinha me deixado. Como a pessoa joga quase dois anos fora assim desse jeito? Por uma qualquer que conheceu numa maldita viagem à Las Vegas? Ah, Las Vegas, não te conheço mas já te odeio o suficiente pra nunca ir até você. Eu não queria levantar. Não queria sair mais nunca desse quarto. Queria ficar aqui pra sempre, sem ter que olhar pra ninguém. Sem ter que ver as pessoas sentindo pena de mim. Esse sentimento não devia existir, sério. Lembrei do sonho que tive na sexta à tarde e por que eu não acreditei nele? Eu poderia ter me adiantado, acabava antes só pra ficar por cima! Só pra ele não ficar como o fodão, garanhão, -o-pega-todas- que sempre foi. Mas não, jurava que estava tudo bem e aí vem a rasteira. Que delicia de vida. Será que já tinha me traído antes? Esse tempo todo que passávamos sem se ver? Meu Deus, eu sou corna há meses e não sabia? Parabéns, Beatriz! Toma aqui teu diploma de otária, mais uma vez. Ta bom de colocar uma prateleira no quarto e enfileirar todos os diplomas de troxa, babaca, otária e afins que eu conquisto porque olha... Meu celular encontrava-se desligado desde ontem e assim permanecerá. 

Alice: porra, finalmente!! - entrou no quarto com uma bandeja na mão - vim aqui várias vezes pra ver se você tava respirando - sentou do meu lado. Em outro dia eu poderia até rir mas não esbocei nenhuma reação - 

Bia: que horas? 

Alice: duas e quinze - me surpreendi mas não liguei - você precisa comer, ta?! 

Bia: não quero 

Alice: não perguntei se você quer e você não tem querer - riu forçadamente e eu revirei os olhos - eu sei que você não vai gostar mas...

Bia: o que você fez? 

Alice: eu? Nada! Mas tem umas pessoas aí querendo falar com você 

Bia: puta merda, Alice! Diz que eu morri, viajei, fui pra marte, não quero ver ninguém 

Alice: não posso fazer isso - encolheu os ombros balançando a cabeça negativamente - primeiro come - colocou a bandeja no meu colo - foi a tia que fez, ela ta triste que você mentiu pra ela 

Bia: não menti, omiti 

Alice: não importa, só come - bufei, peguei o garfo e comecei a comer, era macarrão com molho branco, queijo e presunto. Queria só ter apetite. Acho que ele foi embora com minhas lágrimas - 

Bia: não agüento mais - empurrei o prato - 

Alice: você só deu duas garfadas 

Bia: não importa, não quero mais 

Alice: toma o suco então - tomei sem reclamar e ela sorriu - vai tomar banho 

Bia: para de mandar em mim, eu já sei o que eu tenho que fazer, ta? Obrigada, de nada - ela riu - 

Alice: mesma marra de sempre! Vou descer, não demora - levantou e tirou a bandeja de cima de mim - 

Bia: quem ta aí? 

Alice: desce que você vai ver - piscou e saiu do quarto. Levantei quase morrendo e não tive nem coragem de arrumar minha cama. Fui pro banheiro, me olhei no espelho e cheguei a me assustar. Olheiras, rosto inchado, olhos vermelhos, cabelo uma bosta... Escovei meus dentes e tomei banho até que rápido. Me sequei, me enrolei já toalha e fui pro closet. Por puro impulso, maldito impulso diga-se de passagem, abri a porta do guarda roupa que tinha as roupas dele e comecei a chorar novamente. Não sei se de tristeza, raiva ou mágoa mesmo. Tudo tão arrumadinho, ao contrário das minhas que sempre foram uma bagunça, rs. Que saudade dele! Por que não levou isso tudo? Não mereço isso, eu juro que não. Pensei em jogar essas malditas roupas pela janela. Mas não! Vai que ele muda de idéia e pede pra voltar? Eu volto, claro. Que voltar o que? Quer outro diploma de troxa? Dizia a minha razão. Volta, claro que volta. Vocês se amam e todos merecem uma segunda chance, terceira, no caso dele. Dizia meu coração altamente perigoso. Balancei a cabeça na tentativa de afastar a praga desses pensamentos e bati a porta com força. Peguei a calcinha e o sutiã, procurei uma roupa de ficar em casa e me vesti. Penteei meu cabelo, fiz um coque frouxo e sai de la. Calcei meu chinelo da Nike e to chegando a conclusão que tudo vai me lembrar ele porque até olhar pros meus pés com esse chinelo da vontade de chorar. Mas ok, sigo firme. Respirei fundo mil vezes e sai do quarto. Cheguei perto da escada mas não apareci, fiquei no cantinho da parede e só senti vontade de me jogar da janela quando ouvi a voz da Rafaela e da tia Nadine, não sei se tinha mais gente mas a voz das duas eu ouvi sim. Tomei coragem e cheguei até o meio da escada. Gustavo, Alvarito, Jota, João Celso, tio Neymar... Gil, Julia e Nick (?) também estavam ali e ok, confesso. Ver eles ali me deixou feliz. Notaram a minha presença e se calaram aos poucos. Terminei de descer as escadas e fui direto abraçar a Ju, ela levantou e me abraçou apertado afagando meu cabelo. Sorri pra tia Nadine e pro tio Neymar e acenei pro outros ainda abraçada na Ju, que retribuiram -
Ju: como você está? 
Bia: maravilhosa, como nunca estive antes - forcei uma risada e os outros realmente riram -
Ju: desculpa, é costume perguntar essas coisas depois que acontece uma coisa ruim - deu ombros -
Bia: como se fosse melhorar - falei entredentes e dei ombros. Falei com cada um ali e peguei o Nick da Rafa - oi, dinda - ele abriu seu sorrisinho de sempre e sorri verdadeiramente pela primeira vez no dia - tava com saudade da dinda, amor? - esfreguei carinhosamente meu nariz no dele e ele sorriu novamente me deixando encantada - 
Tio Neymar: viemos falar com você - me tirou do meu encanto e o olhei - 
João: é, acho que a gente te deve uma explicação - Alice olhou pra ele e me pareceu o fuzilar apenas com o olhar, não entendi mas fiquei quieta -
Rafa: e não adianta dizer que não quer ouvir 
Bia: então vocês sabiam de tudo? - olhei frustrada pra todos alternadamente e me senti a mais idiota do mundo -
Tia Nadine: filha, nós não sabíamos de nada. Por isso que viemos falar com você
Bia: vocês não sabiam?
Jota: não e pra ser sincero se isso aconteceu em Las Vegas, ou eu tava muito bêbado ou não tem outra explicação 
Gustavo: é, Bia! Eu não lembro do Nj ter saído de perto da gente com mulher
Alvaro: fora que não deixaríamos ele fazer isso justo com você!
Alice: mas fez - disse irritada - não sei porque vocês defendem tanto - olhei pra ela - todo mundo aqui sabe a fama que o Neymar sempre teve 
Bia: dá pra parar? - olhei rápido pros tios e olhei pra ela de volta -
Alice: não vou parar. Eles dois conhecem muito bem o filho que tem 
Tio Neymar: sabemos
Tia Nadine: infelizmente - completou - e por isso que estamos aqui - continuou - nós sabemos o quanto você gosta dele e o quanto você é maravilhosa, sabemos o quanto foi difícil pra vocês ficarem juntos e depois tudo, tempo longe, distância, o amor de vocês continuou intacto - vai me fazer chorar em 3,2,1... -
Tio Neymar: sabemos quanta coisa difícil você já passou 
Rafa: e como você se apega rápido as pessoas - as lágrimas já tavam caindo, tá? Só um detalhe bem básico quase que imperceptível - e com a gente, ele principalmente não foi diferente
Gil: a gente veio aqui pra te pedir desculpa por ele, porque você não merece isso, se é que ele fez mesmo. Só fique sabendo que nós estamos do seu lado
Tia Nadine: sejamos corretos! O Junior errou e tem que pagar por tudo que fez
Alice: gente pelo amor de Deus! Vocês não tem que pedir desculpa por erro de ninguém! Ele errou, ok! Errou, errou pronto e acabou. A vida dos dois tem que seguir em frente - Ju me abraçou de lado. Eu continuava com o Nick no braço e ele estava bem quietinho no meu colo - agora, se ele vier com graça pro lado dela, ele vai ver
Rafa: Alice, você tá certa. Mas não foi só isso que a gente fazer aqui, também, claro mas é que tem outro motivo maior
Tio Neymar: o Junior falou que você disse que ele não iria mais ver a Clara - porra, ainda tem a Clara! -
Bia: e não vai - disse impulsivamente, ou não -
Tia Nadine: não faça isso, minha filha - disse com lágrimas nos olhos. Ai não, não chora que eu não aguento -
Ju: você ta sendo egoísta ao ponto de não pensar na Clara - egoísta? Já ouvi isso de um alguém - 
Rafa: você sabe o quanto ele é apaixonado por ela, não faz isso
Tio Neymar: nós sabemos que você ta magoada, sabemos o quanto você está triste com ele mas você não pode afastar a Clara dele, ele já passa tempo longe demais dela e do Davi 
Bia: por que ele não pensou nisso quando tava em Las Vegas? Eu que sou egoísta? Ele sempre, sempre, sempre só pensa nele e dessa vez não foi diferente. Me desculpem, eu amo vocês e nunca impediria de vocês verem a Clara mas ele - balancei a cabeça negativamente - ele não!
Jota: você tem que pensar, Bia. As coisas não se resolvem assim 
Bia: ele já resolveu tudo ontem quando veio aqui e terminou comigo
Tia Nadine: não vamos forçar você a nada, nunca faríamos isso. Só quero que você pense um pouco nesse ponto. Afastando os dois você vai deixar muita gente triste, a Clara inclusive. Você como mãe, deveria saber que a alegria de um filho vem em primeiro lugar - meu Deus parar por favor. Eu não aguento mais -
Bia: gente para por favor - chorei desesperada. Eu tava até então, me controlando pra chorar que nem gente normal, mas isso nunca acontece comigo pelo simples fato que eu não sou normal. A Ju pegou o Nick de mim e escondi meu rosto com as mãos. Senti alguém me abraçando e não precisei de muito para ver que era a tia Nadine, afinal, o abraço dela e do filho são incrivelmente iguais e nada que lembre ele passa despercebido pela minha mente -
Tia Nadine: me desculpa - disse baixinho no meu ouvido - me desculpa, eu sei que você está mal. Não devia ter falado tudo isso assim. Só quero o seu bem. Me perdoa - disse me apertando em seu colo e assenti. Como que fica com raiva de uma pessoa dessa? - promete que vai pensar? - me fez a olhar e demorei pra responder, porém assenti - - obrigada - sorriu e beijou minha testa - 
Tio Neymar: vamos? 
Tia Nadine: vamos! - me despedi dos tios que falaram mais algumas poucas coisinhas pra mim, dos meninos, que apesar de conhecer o Junior há tanto tempo, estão todos do meu lado. Da Ju e do Nick, que iriam pra Sp, e da Rafa, que iria pro Rio - nem pense em se afastar da gente, viu?
Bia: nunca - sorri -
Jota: nem de toiss, pentelha
Bia: óbvio que não, meus favs - rimos -
Gustavo: ai sim, vi vantagem
Rafa: queria ficar com você mas eu já tinha dito pra Ju e não sabia que ia acontecer isso tudo 
Bia: ta tudo bem - a abracei - quando você voltar fazemos alguma coisa - sorri fraco -
Rafa: promete que vai ficar bem? 
Bia: vou tentar 
Rafa: fala comigo tá? Você sabe que é eu e você sempre - me abraçou - 
Bia: amo você
Rafa: eu também - beijei sua bochecha e fomos até a porta abraçadas -
Alice: é... tenho que falar - pausou - que falar, to ficando maluca - riu. Essa menina não ta normal, não mesmo - me esperem que tenho que ir no carro... procurar uma coisa - foi saindo. Olhei e ela estava sem nada nas mãos inclusive sem a chave do carro e o shorts dela era de pano e não tinha bolso - 
Bia: vai abrir o carro com a força do pensamento? - ergui uma sobrancelha e os meninos riram -
Alice: ah... é! - riu sem graça - eu... vou pegar - apontou pra dentro e olhou pros meninos - esperem, é rápido 
João: vai lá, maluca - riu e ela entrou correndo -
Bia: ta estranha - falei pra Rafa e ela riu -
Rafa: ela ta puta. Foi lá em casa e tudo 
Bia: eu sei - dei ombros e ela voltou -
Alice: aqui - balançou a chave na mão - vamos - eles me deram tchau novamente e desceram divididos nos dois elevadores. Entrei em casa, encostei a porta e deitei no sofá -
Tia Maria: e então - veio de algum lugar da casa e sorri fraco - olha isso não se faz tá? Não gostei nada - sentou do meu lado, levantei as pernas e coloquei em seu colo -
Bia: desculpa, tia. Você sabe que quando eu to triste não gosto muito de papo
Tia Maria: prefere sofrer sozinha, sim, sei! 
Bia: não é sofrer sozinha, é que não quero ninguém com pena de mim
Tia Maria: não tenho pena nenhuma de você, amor. Muito ao contrário, tenho pena dele que perdeu uma menina maravilhosa como você - sorriu alisando minha perna - você é jovem, linda, tanto por fora mas principalmente por dentro. Só não quero te ver chorando pelos cantos ou trancada dentro de casa. Você não merece 
Bia: tá bom. Obrigada, eu amo muito você - levantei e a abracei -
Tia Maria: deita aqui que vou te fazer cafuné - sorri e deitei com a cabeça na sua perna. Ela ficou me fazendo cafuné enquanto eu procurava alguma coisa na tv. Deixei na HBO e a Alice voltou -
Bia: achou? 
Alice: é... não - disse meio enrolada - preciso subir - nem esperou eu responder e subiu correndo. Tia Maria riu -
Tia Maria: doidinha 
Bia: isso pra mim tem outro nome - ela não falou nada e nem eu. As meia hora seguinte, fiquei assistindo ou melhor, fingindo que assistia, enquanto a tia mexia no meu cabelo. A campainha tocou e ela levantou pra atender, eu fiquei no meu cantinho -
Clara: mamãe??? Eu chegou - dei um pulo do sofá e já sorri, primeiro por ela ter chegado e segundo por essa entrada triunfal. "Eu chegou" -
Bia: oi, amor da minha vida - falei observando-a até ela chegar até mim e me dar um abração. Esse que eu estava querendo desde ontem - que saudade, amor - enchi a bochecha dela de beijos e ela gargalhou deliciosamente - 
Clara: pala, mamãe - colocou a mão na minha boca e parei sorrindo sentando-a no meu colo em seguida -
Janaina: ué, em casa? - beijou minha testa, colocou as bolsas da Clara na poltrona e sentou do meu lado -
Bia: é... Cade o papai?
Janaina: não veio mas mandou beijos
Bia: soube que a Ju veio?
Janaina: ela me ligou. Está indo pra lá - assenti -
Clara: mamãe, a vovó - pausou - me levou - falou devagar e eu sorri do seu jeitinho com medo de falar e errar. Um amor - pra fexta da Lix
Bia: eai? Você gostou?
Clara: aham! Tinha bola, coxinha, bigadero - riu - 
Bia: e você comeu muito? 
Clara: ahammm 
Bia: comilona - apertei seu nariz e ela riu - 
Clara: tinha uma Peppa bemmmm gigante - levou as mãos acima da cabeça - ela me abaçou um montão de vezexx
Bia: e você gostou?
Clara: goxxtei muito - sorriu -
Bia: e se comportou?
Clara: aham, né vovó?
Janaina: foi sim, que nem uma mocinha 
Clara: viu, mamãe? - rimos -
Bia: vi amor, parabéns 
Janaina: achei que estaria com o Junior. Vi que ele chegou
Tia Maria: amor, vamos guardar suas coisas no quarto? - olhou pra mim e assenti - 
Bia: é, filha. Vai com a tia que daqui a pouco a mamãe vai brincar com você, tá?
Clara: tá - desceu do meu colo - mamãe a dinda Alice tá aqui? - ri. Depois que a Alice ensinou, a Clara só a chama assim -
Bia: tá sim, amor. No quarto dela - tia Maria pegou as coisas dela e subiram -
Janaina: pode contar. Qual o motivo dessa carinha abatida? Brigaram de novo?
Bia: terminamos - ela olhou assustada e olhei pra baixo - ele terminou 

Janaina: ele terminou? - disse completamente surpresa e eu assenti. Contei tudo, desde que ele voltou de Las Vegas até o momento que os tios foram embora - meu Deus, Anna Beatriz! - disse chocada com as mãos na boca - 

Bia: é, mamãe! Voltei a solteirisse

Janaina: eu ainda não acredito que o Juninho fez isso 

Bia: mãe, para de chamar ele de Juninho, não tem nada de inho. Não tem nada daquele amor de pessoa que ele mostrava ser, vai saber se ele já não me traía em Barcelona? 

Janaina: você ta louca? Ele era maluco por você, sempre fez o impossível por vocês 

Bia: ele? - ri irônica - então o impossível dele não foi suficiente porque na primeira viagem que fez sem mim me colocou chifre - disse prendendo (mais) o choro entalado na garganta -

Janaina: isso não pode ficar assim, filha. Você tem que ir falar com ele, fazer alguma coisa - disse desnorteada e eu incrédula que estava ouvindo isso da boca da minha mãe -  vocês não podem terminar assim desse jeito! 

Bia: você ta se ouvindo, Janaina Devinni Moraes? Você ta louca, é isso? Eu ir atrás dele? Eu ter que me humilhar por uma pessoa que não ta nem aí pra mim? - ri incrédula - você só pode ta surtada - ela ia falar mas não deixei - e outra, não tem essa de vocês não podem terminar assim! Foi ele que quis assim, e assim vai ser 

Janaina: seu pai vai querer matar ele 

Bia: um bem pra humanidade - dei ombros - 

Janaina: e a Clara nisso tudo? 

Bia: o que tem? 

Janaina: você vai afastar ela dele? 

Bia: óbvio 

Janaina: Beatriz... é errado, a Clara não tem culpa nenhuma disso 

Bia: to dizendo que ela tem culpa? De jeito nenhum! Quero que ela fique o mais longe dele possível 

Janaina: você vai usar a Clara pra afetar ele, você é maluca? 

Bia: a filha é minha e eu sei o que é melhor pra ela, ta? Seu papel é mimar quando estou longe - com tudo isso, ela riu - 

Janaina: você é muito cabeça dura - disse negando - só lhe digo uma coisa... se a Clara ficar mal nessa história toda, eu não respondo por mim - o telefone de casa tocou e a tia Maria veio atender - 

Bia: mãe, relaxa ta? Quem ta mal sou eu e não to reclamando - dei ombros - 

Tia Maria: Bia, pra você 

Bia: quem é? - franzi o cenho mas lembrei que meu celular estava desligado - 

Tia Maria: a Natália 

Bia: ainda mais essa agora - respirei fundo, levantei e fui até o telefone - alo? 

Natália: Beatriz, é a Natália - revirei os olhos - 

Bia: fala 

Natália: queria saber se podemos nos encontrar hoje, queria muito ver a Clarinha - esqueci de dizer que a Clara começou a vê-la no mês passado. Uma vez por mês, como tínhamos acertado - 

Bia: a Clara está na casa dos meus avós, só volta à noite - minha mãe olhou boquiaberta - 

Natália: não tem como você buscá-la? 

Bia: não, não tem! 

Natália: tudo bem - notei a decepção em sua voz mas quem liga? Eu não - volto a ligar outro dia para marcarmos 

Bia: ta certo - desliguei - que inferno essa mulher - voltei pro sofá e a tia Maria riu - 

Janaina: não te ensinei a mentir desse jeito - ri - fora isso, como você está? 

Bia: só queria morrer 

Janaina: vem aqui vem - me puxou para seu colo e me fez deitar - é ruim, não é? - assenti e as primeiras lágrimas começaram a descer - já passei por isso. Não foi com seu pai mas eu gostava muito dele, que nem você gosta do Junior. Passei uma semana chorando 

Bia: isso deve ser de família - rimos e passei a mão no rosto - 

Janaina: mas depois eu vi que não adiantava chorar. Ele tava vivendo e eu chorando em casa - assenti - claro que tem a fase ruim, é necessário passar por ela mas permanecer não. Chore o quanto você achar que seja necessário mas saiba que vai ter um momento que você vai te que dar a volta por cima. Aprender a viver sem ele 

Bia: mais uma vez, né? 

Janaina: isso! Mais uma vez. A vida não é feita só de coisas boas e você sabe bem disso. São as coisas ruins que passamos que nos fortalecem, nos fazem enxergar a vida de uma outra maneira, amadurecemos com isso. Esse término de vocês vai ser só mais uma que você vai tirar de letra - disse enquanto alisava meu cabelo - quando esse carinha que eu era louca por ele terminou comigo, sabe o que eu fiz? 

Bia: passou uma semana chorando? - ela riu -

Janaina: também mas depois disso, me arrumei, fiz aquela maquiagem, coloquei aquele salto - ri - sai com minhas amigas e pro meu azar ou sorte, não sei, ele estava no mesmo lugar que eu. Peguei um cara na frente dele 

Bia: nossa, destruidora - rimos - 

Janaina: dois dias depois ele me ligou pedindo desculpa. Mandei ele sumir com a desculpa dele e desliguei - rimos - não to dizendo pra você fazer o mesmo porque as circunstâncias são outras, principalmente porque eu não era conhecida por ninguém, como você, vocês, na verdade - assenti - só quero que você saiba que na bad, como vocês dizem, você não pode ficar - tem mais maravilhosa? Não, não tem. Conversamos por mais ou menos uma hora e depois ela foi pra casa. Subi pro quarto da Clara e a encontrei com a Alice montando um quebra cabeças -

Bia: filha - me olharam - quando você tava na casa da vovó, você fez a tarefinha com ela ou o vovô? 

Clara: hmmm - disse batendo o dedinho na bochecha e Alice riu - não sei, mamãe - ri, fui até a bolsa dela, olhei a agenda e não tinha nada de tarefa além de uma pintura. Assinei e peguei a folha e os lápis de pintar - 

Bia: olha, a dinda vai te ajudar a pintar e depois vocês voltam a brincar ta? 

Alice: a dinda vai é? - rimos - 

Bia: palhaça 

Clara: ta - entreguei a folha e os lápis pra Alice e fechei a bolsa da Clara -

Bia: to no quarto, fica com ela? Não to bem 

Alice: fico, claro! Depois vou lá ficar com você 

Bia: obrigada - sai do quarto e entrei no meu, que por sinal não sei o que ta mais bagunçado, ele, minha cabeça ou a bosta do meu coração. Liguei o ar, deitei na cama, me enrolei toda e peguei meu celular. Liguei-o, esperei carregar as notificações e tava lotado de mensagens, como de praxe. Respondi inclusive as pessoas que vieram aqui em casa, que tinham falado comigo ontem, respondi o que deu e cansei. Sai do whats, abri o instagram e curti umas fotos no feed. Poucas porque cansei também. Editei uma minha antiga porque zero condições de tirar hoje e postei. Mais por indireta do que por querer postar mesmo. Afinal, ele verá. Ou não, se é que não já me deu unfollow -

@beadevinni: "Só não culpe o amor porque alguém não soube te amar, por que alguém não soube te mostrar o significado dele. O amor é só um sentimento, o que machuca são as pessoas."

Rapidamente o número número de likes e comentários começou a aumentar e logo pelos primeiros, vi as perguntas sobre o que tinha acontecido e se tinha acontecido algo. Meu whats começou a apitar e cinco pessoas vulgo Henrique, Carol, Jade, Rippi e Isabela vieram perguntar o que estava acontecendo. Incrível como conhecem. Mandei áudio pro Henrique explicando e enviei o mesmo para as meninas. Não esperei resposta, desliguei o celular novamente, virei pro lado e dormi. 

(...)

Colocando a minha situação, sentimental, psicológica e física em níveis, digamos que há três dias eu estava péssima, três dias depois eu estou menos péssima. Colocando minha situação sentimental, psicológica e física em porcentagem, digamos que há três dias eu estava 100% péssima, três dias depois eu estou 95% menos péssima. 

Os dias tem passado numa lentidão horrível. Todos os próximos e amigos em comum entre eu e ele já sabem. Eu mesmo fiz questão de contar porque as perguntas sobre como ele estava por causa da lesão, estava me irritando profundamente. Ok, ninguém sabia de nada mas agora já estão sabendo. Pelo menos os amigos, pro mundo ainda somos o casal feliz que sempre fomos. É difícil ver uma risada sincera sair da minha boca. A única coisa que vem fazendo e sempre me fez bem é a minha filha. O verdadeiro amor da minha vida. Ps.: ele continua sem vê-la e ela todo dia pergunta pelo pai.

Acordei na quarta-feira, 12 de agosto, na mesma hora de sempre. Não enrolei muito, por mais que fosse a minha vontade. Desliguei o ar, arrumei minha cama, fiz um coque no cabelo, calcei o chinelo e fui acordar minha baby. Entrei em seu quarto e ela dormia que nem um anjinho. Toda encolhidinha embaixo do edredom, dá até pena de acordar.

Bia: amor, acorda - abri as cortinas e desliguei o ar. Nem se mexeu - baby, acorda. Hora de levantar - guardei a agenda que estava na mesa em sua mochila e separei o uniforme. Ela resmungou algo e virou pro lado. Puxou a quem? Haha. Sentei ao seu lado e a descobri - bicho preguiça, acorda - alisei sua testa e a senti quente - Clara? - balancei-a e ela me olhou - você tá quentinha - fiz bico - quero nem acreditar que está doente 
Clara: não quelo ir - disse toda mole e deitou no meu colo com sua inseparável fraldinha de dormir -
Bia: ah meu Deus, filha - coloquei-a no colo, ela deitou a cabeça no meu ombro, sai do quarto e fui pra cozinha -
Tia Maria: ué, não tomou banho ainda? - riu e enxugou as mãos -
Bia: to achando ela quente - me olhou -
Tia Maria: não acredito que tem alguém dodói? Pegue o termômetro que minhas mãos estão geladas - assenti, ela pegou a Clara de mim e fui até o banheiro rapidinho. Peguei o termômetro e voltei pra sala, onde a tia já estava sentada no sofá - da aqui, filha - entreguei na mão dela, ela colocou embaixo do braço da Clara e quando apitou ela tirou -
Bia: eai? - disse nervosa -
Tia Maria: 37,8
Bia: não acredito
Tia Maria: melhor não levar ela pra escola
Bia: então vou levar ela no médico
Tia Mara: primeiro calma que não deve ser nada demais. Segundo, você vai dar banho nela enquanto eu faço alguma coisa pra ela comer e depois dou remédio
Bia: banho frio?
Tia Maria: é. Tome, pegue ela - colocou ela no meu braço e dava até pena de tão molinha. Vontade de colocar num potinho pra nada de mal acontecer com ela. Subi pro seu quarto, sei banho frio como a tia disse e ela se tremia de frio. Pior coisa do universo. Enxuguei-a, levei-a pro quarto, deixei-a na cama e fui pegar suas coisas. Voltei, passei pomada, pus a fralda e deixei-a de camiseta e calcinha. Peguei a toalha, coloquei ela no colo e desci - aqui, fiz suco de laranja - me deu a mamadeira e pegou a toalha. Sentei na cadeira e coloquei a mamadeira na boquinha dela. Ela começou a tomar mas não foi nem por cinco segundos. Tirou a mamadeira da boca e me entregou -
Clara: tá dodói - ameaçou chorar -
Bia: onde, amor? Me mostra
Clara: ati - colocou a mão na garganta e a tia voltou -
Bia: ela falou que a garganta ta doendo
Tia Maria: deve ser por isso a febre. Ela tem que tomar pelo menos metade pra não tomar o remédio sem nada na barriga. Amor, toma só um pouquinho - coloquei a mamadeira novamente na boca dela e novamente ela tirou -
Clara: papai - olhei pra tia e olhei pra ela. Ah, maldito! Culpa sua! Toda sua!! -
Tia Maria: eu sabia que isso ia acontecer. Isso é saudade - alisou o braço dela - você não pode mais continuar com isso, Beatriz! - não dei ouvidos e fiz de tudo pra Clara tomar mais do suco. Ela tomou o que conseguiu e depois a tia deu remédio - vamos ficar observando. Se não baixar você leva pro hospital - assenti. Levei-a pro meu quarto, ela ficou na minha cama e deitei do lado dela -
Bia: quer ver desenho?
Clara: quelo o papai - abstrai abstrai abstrai abstrai abstrai abstrai -
Bia: qual desenho que você quer, Maria Clara?
Clara: quelo o papai - repetiu me deixando irritada e por pouco não grito. Respirei fundo olhando pro teto e voltei a olhá-la -
Bia: não tem papai tá? Tem mamãe e tem desenho. Não quer ver nenhum? - negou - tudo bem então - continuei deitada do seu lado e ela quieta daquele jeito tava me incomodando. Será que isso mesmo é o melhor? Será que afastando os dois eu to fazendo bem pra minha filha? Óbvio que não senão ela não estaria doente - isso poderia ser diferente - pensei alto e ela me olhou um tanto que triste -
Clara: quelo a lola
Bia: vou buscar - fui até o quarto dela, peguei a lola e realmente ela é muito apegada nele. O que é uma pena - aqui amor - entreguei em sua mão e ela abraçou a boneca. Meu celular tocou e vi o nome da tia Ná na tela. Atendo ou não atendo? Deixei tocar, tocou mais duas vezes e ela desistiu. Sei muito bem qual o assunto e realmente, agora não dá -

(...)

Ninguém em casa e a Clara não para de chorar. Eu já não sei mais o que fazer. Aliás, sei. Liguei pra Carol rezando pra que ela não estivesse ocupada e ela atendeu rapidinho.

Carol: oi, loiretchi 
Bia: oi, ta ocupada?
Carol: não, o que houve?
Bia: a Clara, ela não para de chorar. Ta com febre desde de manhã. Não sei mais o que fazer. Não tem ninguém em casa, me ajuda por favor
Clara: calma Bia...Olha só, vou ai tá? Você quer levar ela pro hospital?
Bia: quero, quero sim 
Carol: ok, chego rápido 
Bia: tudo bem, obrigada e desculpa te ligar  
Carol: por favor né? Já chego
Bia: tá - desliguei. Arrumei suas coisas com ela ainda chorando e eu não aguentava mais. Queria trocar de lugar com ela, só pra ela não sofrer mas não posso. Vesti a primeira roupa que encontrei, penteei o cabelo, troquei a roupa da Clara e a campainha tocou. Pus ela no colo e desci. Abri a porta e era a Carol - ai, ainda bem
Carol: como ela tá? - alisou sua cabeça e me deu um beijo na bochecha - 
Bia: parou de chorar mas fica resmungando. Vou só pegar as bolsas - assentiu e pegou ela de mim. Subi, peguei minha bolsa e a bolsa da Clara, calcei a sandália e desci - vamos - ela saiu e eu fechei a porta de casa -
Carol: eu sei que você não vai gostar mas eu avisei pro Junior
Bia: Carolina, eu não acredito! 
Carol: você já parou pra pensar que isso tudo pode ser saudade dele? O Davi já ficou várias vezes assim - na verdade eu sei que é mas o orgulho ferido fala mais alto e eu to fazendo mal a minha própria filha com isso tudo -
Bia: você não podia ter feito isso - descemos pro térreo caladas e entramos no carro dela. Fui atrás com a Clara e ela deu partida -
Carol: o que não pode é você continuar agindo desse jeito, fazendo ela ficar mal por uma coisa que ela não tem nada a ver. Eu sei que você sabe que tá errada mas você é tão orgulhosa ao ponto de não querer admitir - respirei fundo controlando as lágrimas - 
Bia: você não imagina como tá difícil 
Carol: imagino, mas a partir do momento que nós temos um filho, você tem que saber que ele é a prioridade e mesmo com todos os problemas do mundo, a felicidade dele e ele estar bem é o que importa - não falei nada afinal ela estava super certa. Chegamos no Ana Costa dez minutinhos depois. Ela estacionou, desci, ela pegou as bolsas, travou o carro e entramos logo. Fomos até a Urgência Pediátrica, a Carol pegou ela e sentou. Fui até o balcão, apresentei os documentos dela e a moça falou que logo a chamaria. Sentei e pode ter certeza que foram os dez minutos mais longos da minha vida -
xXx: Maria Clara Santos Devinni - Santos -
Carol: quer que eu vá junto?
Bia: quero - levantamos e eu peguei a Clara. Ela passou na minha frente e fui andando atrás. Senti alguém pegar no meu braço e me arrepiei completamente após sentir um perfume conhecido. Meu Senhor, ajuda aqui! -
Ney: deixa que eu vou, Cá - Clara ouvi sua voz, levantou a cabeça do meu ombro e instantaneamente seus olhos brilharam e um sorriso se formou em sua boca -
Clara: papaiiii - se jogou definitivamente pro colo dele e ele a abraçou apertado -
Carol: eu falei - disse baixinho no meu ouvido e colocou as bolsas no meu braço - vou esperar aqui - assenti. Fiquei vendo aquela cena mas despertei, virei as costas e voltei a seguir a enfermeira. Logo ele estava do meu lado. A Clara estava com a cabeça deitada no seu ombro e as duas mãos em volta do seu pescoço -
Ney: por que não me ligou? - não respondi e continuei andando. A enfermeira nos deixou na frente de uma porta, bati na mesma, ouvi permissão e entrei -
xXx: boa tarde - esticou a mão esquerda - Catarina - a cumprimentei -
Bia: Beatriz - ela sorriu e sentei na cadeira em sua frente. O Junior entrou e ela agiu normalmente, o que é raro -
Drª Catarina: o que aconteceu?
Bia: ela acordou hoje meio quentinha, ai dei o remédio que ela sempre toma - expliquei tudo -
Drª Catarina: ela vinha reclamando de alguma coisa?
Bia: não, de nada. Ela estava ótima até ontem 
Drª Catarina: estava longe de alguém que gosta muito ou algo do tipo? - engoli seco e pude ver o Ju.. o Neymar me fitar pelo canto do olho. O que eu digo? -
Bia: é... não 
Drª Catarina: que estranho. Quero dar uma olhadinha nela. Coloca ela ali por favor - disse pro Neymar e apontou pra maca. Ele assentiu, levantou e colocou ela lá - pode tirar a roupa dela 
Ney: toda?
Drª Catarina: deixe-a de fralda - assentiu e tirou enquanto eu só observava. Ela colocou as luvas, pegou o estetoscópio e a lanterninha e foi até ela. Ele se afastou e ela começou a olhar a Clara. Ele olhou pra mim com as duas mãos na cintura e balançou a cabeça negativamente, em seguida voltou a prestar a atenção na Clara - a única coisa que eu to vendo aqui é uma inflamaçãozinha de leve na garganta - me olhou - pode vesti-la - disse pra ele e sentou novamente - mas por todo caso eu vou pedir um exame de sangue tá? 
Bia: tudo bem 
Drª Catarina: fiquem aqui porque é melhor - olhou pra ele - venho chamar vocês - assenti, ela jogou as luvas fora e saiu da sala -
Ney: isso tudo é culpa sua - quase que não espera a médica sair pra começar a falar - se você não tivesse me impedido de ver ela, nada disso estaria acontecendo!
Bia: se tem alguém aqui que tem culpa de algo, querido, com certeza não sou eu - ri irônica mas com uma vontade enorme de chorar -
Ney: você tá querendo me atingir fazendo isso mas não ta vendo que a única prejudicada nessa história toda está sendo a minha filha - minha filha... querido, seje menas -
Bia: por que você não pensou nisso quando fez o que fez? Ah, Junior me poupe! - disse um pouco mais alto e a Clara olhava assustada -
Ney: você tá tão metida a certa, deveria ter dito a verdade pra médica!
Bia: cala essa boca por favor! Não sei nem porque você ta aqui ainda, vai embora!
Ney: não sei se você lembra, mas a Clara também é minha filha e não, eu não vou embora - bufei e a porta se abriu -
Drª Catarina: quem vem? Só pode entrar um na sala de coleta 
Bia: eu vou - levantei e deixei as bolsas na cadeira. Fui pegar a Clara mas ela como sempre, agarrou no pescoço do Junior e eu respirei fundo pela milésima vez no dia -
Ney: pode deixar que eu vou - sentei novamente e eles saíram. Que patético! Que situação ridícula! Esperei por dez minutos bem impaciente e eles voltaram. A Clara tava com o rosto vermelho por ser bem branquinha. Deve ter gritado pouco, ainda bem que eu não fui -

(...)

Drª Catarina: bom, o exame dela não apresentou nenhuma alteração e pra falar a verdade eu não sei qual a explicação para isso. Deve ser algo psicológico ou algo do tipo. Receitei o paracetamol normal, observem-a por 48 horas e caso os sintomas permaneçam, tragam ela de volta 
Ney: tudo bem
Bia: muito obrigada - levantei. Ela me entregou a receita e o exame de sangue -
Drª Catarina: espero que essa princesa linda melhore logo e não volte aqui tão cedo - brincou com a Clara e ela sorriu -
Bia: espero mesmo - nos despedimos dela e saímos da sala em silêncio. Voltamos pra recepção, onde a Carol estava e quando ela nos viu logo levantou -
Carol: e então?
Ney: a médica disse que é psicológico mas você sabe tão bem quanto eu o motivo disso - ela ficou alguns segundos calada -
Carol: mas ela tá bem?
Bia: tá, vamos embora logo por favor 
Ney: vou levar ela comigo - o olhei instantaneamente -
Bia: tá maluco? Você não vai levar ela - alterei a voz -
Carol: pelo amor de Deus, isso não é lugar - disse puxando meu braço e me fez andar até o estacionamento. Logo o Junior veio atrás - nada que eu falei entrou na sua cabeça?
Bia: Carol... - implorei apenas com uma palavra -
Carol: você sabe que ela precisa ficar com ele. Não seja tão babaca! - olhei e ele estava indo em direção ao seu carro - vai lá, meu - me empurrou e eu fui -
Bia: espera! - falei mais alto e ele olhou pra trás, parou onde estava e cheguei perto - deixa ela ficar comigo hoje, amanhã eu levo ela lá
Ney: te conheço o suficiente pra saber que você não vai levar ela lá amanhã, afinal, nem as ligações da minha mãe você atende mais - isso, pisa mais, desgraçado - ela vai comigo sim - olhei pra cima e olhei pra ele -
Bia: passa lá em casa pra pegar roupa dela pelo menos
Ney: ótimo, aproveito e pego as minhas - que facada. Que dor no peito. Meu Deus, que vontade de chorar - 
Bia: como você quiser - virei as costas e fui em direção ao carro da Carol -
Carol: eai?
Bia: ele vai lá pegar roupa dela - entrei, ela deu a volta e entrou no motorista - 
Carol: não envolve a Clarinha nisso, ela não tem culpa nenhuma disso tudo - de novo não respondi, ele passou pela gente e ela foi atrás. Chegamos rapidinho no meu prédio e ela parou na entrada - quer que eu suba?
Bia: não. Não precisa
Carol: qualquer coisa que você precisar me liga, tá? 
Bia: tá. Obrigada por tudo - a abracei e deixei escapar algumas lágrimas -
Carol: tudo vai se resolver, vocês vão se acertar - enxugou as danadas -
Bia: não tenha tanta certeza disso - ela não falou nada e eu dei um meio sorriso - vou lá. Obrigada mais uma vez
Carol: por nada, só fica bem - assenti -
Bia: dá um beijo no Davi
Carol: pode deixar - desci, dei tchau e ela foi embora. Entrei no prédio, cumprimentei o porteiro da noite que já tinha chegado, passei pelo hall e os dois estavam me esperando conversando. Ela já estava super diferente e me culpei por isso mas agora não há mais tempo pra culpas e afins, ja aconteceu mesmo. Subimos calados, até a Clara estava em silêncio. Abri a porta, a Alice e a tia andavam de um lado pro outro dentro de casa e quando me viram correram -
Tia Maria: como você some desse jeito? Cade a Clara? 
Alice: por que você não levou celular, eu fiquei preocupada - o Junior apareceu com a Clara e elas olharam surpresa - opa, pera ai - sorriu - vocês...? 
Ney: posso pegar minhas coisas? - a interrompeu -
Bia: você sabe o caminho - respondi sem o olhar e ele passou por mim. Ps.: não largou a Clara um minuto -
Ney: fica com a dinda, filha. O papai só pegar umas coisas e volta
Clara: não quelo - se agarrou no pescoço dele e ele riu -
Ney: quer sim, vai com ela e daqui a pouco eu pego você
Clara: daqui a pouco?
Ney: é, bem rapidinho - piscou pra ela -
Clara: rapidinho, tá? - até eu ri. Ele colocou ela no chão e subiu -
Tia Maria: o que aconteceu? 
Alice: onde vocês tavam? - a Clara ergueu os braços pra ela e ela a pegou -
Bia: no hospital - contei tudo e elas não falaram muita coisa. Subi pra arrumar as coisas da Clara e não sabia se colocava as coisas da escola mas por todo caso, coloquei e as coisas do ballet. Além do remédio, brinquedos e blá blá blá -
Ney: pronto? - tomei um susto e me virei ficando muito perto dele, mais do que deveria -
Bia: é... sim - dei um passo pra trás - se ela tiver melhor, as coisas da escola tá tudo ai - assentiu e pegou em cima da cama - e a do ballet também, se você for levar 
Ney: tem coisa minha ai ainda mas depois eu pego, é que não deu na mochila - assenti quase que obrigada -
Bia: você... me liga se acontecer alguma coisa?
Ney: o que tinha que acontecer já aconteceu, agora ela vai ficar bem - disse com seu jeito arrogante que eu nunca tinha visto na vida e engoli seco mas assenti com o choro entalado na garganta - tchau - virou as costas e foi saindo -
Bia: Junior... - foi mais forte que eu, eu devia ter me controlado só que não deu certo. Não consegui. Ele parou onde estava e olhou pra mim - é isso mesmo que você quer? - rezei pra que ele dissesse "não, claro que não, só to te testando. Vem cá, eu te amo, vamo casar" mas a única coisa que ele fez foi virar as costas e sair do quarto. Eu poderia ter ficado sem essa, poderia. Claro que poderia. Fiquei sem saber o que fazer, se eu descia, se eu sentava no chão e chorava mas achei melhor descer afinal, eu tinha que falar com a minha filha. Cheguei na sala e ela já tava dando tchau pras duas. Esperei, me abaixei e ela veio até mim - obedece tá? - mal conseguia falar com o choro entalado na garganta - 
Clara: voxê não vem? - fez bico - 
Bia: não, amor
Clara: puque?
Bia: porque a mamãe tem umas coisinhas pra fazer - forcei um sorriso - depois quero saber de tudo, ta certo?
Clara: tá ceto - sorriu e me abraçou bem apertadinho como sempre fez - 
Bia: dá beijo - fiz bico e ela me deu um beijinho - te amo, viu?
Clara: viu - riu - tchau, mamãe. Tchau, dinda. Tchau, titia - deu tchau alternadamente e eu levantei. Dei tchau, ela pegou na mão do Junior, ele acenou pras duas e saíram. Pronto, foi o suficiente pra eu chorar desesperadamente mais uma vez. Tia Maria fechou a porta e eu fui pro sofá, a Alice ficou sem saber o que fazer e subiu -
Tia Maria: o que eu faço pra você parar de sofrer, Bia? Por favor, eu odeio te ver assim!
Bia: nada tia, - disse em meio as lagrimas - nada, não tem o que fazer - dei ombros -
Tia Maria: é verdade, só você pode fazer. Pensa se vale a pena isso tudo, tá? - assenti e ela saiu. Fiquei ali por mais de meia hora e quando parei de chorar, levantei, subi pra tomar banho e antes de chegar no meu quarto, passei no da Alice, a porta estava entreaberta e sem querer ouvi a conversa dela -
Alice: ... viagem! Não aguento mais, ela ta sofrendo muito. Ela não merece... Sim, tá! ... você pediu pra eu contar tudo e eu to contando mas acho que isso não é certo... Ela não merece, eu ja falei.... Para de rir, idiota! Sem coração - riu - to falando sério... Você toma uma atitude ou nao vai dar mais - vi ela levantar e passei logo pro meu quarto. O cheiro dele tava impregnado ali pra acabar com tudo - amiga? - entrou no quarto -
Bia: oi
Alice: vamos... dar uma volta?
Bia: nao to afim, só quero tomar banho e dormir 
Alice: por favor, você precisa sair um pouco, se distrair. Vamos, aproveita que a Clara ta com o Junior - fiquei calada - vamosss 
Bia: tá, tudo bem - sorriu - 
Alice: vou esperar você tomar banho e vou me arrumando
Bia: tá - saiu, sentei na cama, peguei meu celular, respondi o whats, abri o instagram e a tia tinha postado uma foto da Clara há alguns minutos, já tomada banho, pela roupa que estava -

@nadine.goncalves: A dodoizinha chegou !!! Linda da vovó... Ta faltando o Davizinho...  ️ 

Ri da meia, com certeza deve ser da Rafa haha. Apenas curti a foto e fui tomar banho, intrigada com o que tinha acabado de ouvir (sem querer) da Alice.

Fala Ju:

Ooooooiiiii!!! Tchaaaauuuuu. Não esqueçam dos comentários

Beijocaixxx

Camila, parabéns amor. Feliz Aniversário!! Que Deus te abençoe sempre, te conceda as melhores coisas que existem no mundo. Um beijo, da Ju, Bia e Clarinha.  ️ 

Ps.: não estou atrasada, aqui não tem horário de verão então ainda é seu dia hahahaha

Read: 

http://ounicoerroqueacerteinjr.blogspot.com.br/?m=1

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